À sombra do passado

Sete anos após escândalo, Fatec se reinventa

Leandro Belles

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Em novembro de 2007, a Operação Rodin acertou em cheio duas fundações ligadas à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O escândalo, que sacudiu o meio político gaúcho, abalou as estruturas da Fundação de Apoio à Tecnologia (Fatec) e da Fundação Educacional e Cultural para o Desenvolvimento e o Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura (Fundae). Além das prisões e afastamentos de servidores e nomes ligados às fundações, a Rodin manchou com a imagem e a reputação da Fatec e Fundae. Passados quase sete anos do fato, as duas fundações lutam para se reinventar. A Fatec parece ter conseguido se recuperar do estrago. Já a Fundae definha por causa dos entraves judiciais, como os cerca de R$ 24 milhões ainda bloqueados pela Justiça Federal.

Duas fundações, duas realidades distintas

A Fatec, primeira fundação ligada à UFSM, contratada pelo Detran  para realizar o processo de habilitação da carteira de motorista, teve uma diminuição no orçamento médio que passou de R$ 70 mihões, em 2007, para 40 milhões nos últimos quatro anos.

Porém, a principal mudança foi a preocupação obsessiva com a ética, boa conduta e a transparência que envolvem os 300 projetos, que hoje são desenvolvidos pela entidade, alguns, em parceria com importantes conglomerados multinacionais, como Bayer e ADM.  A Fatec  segue sendo fundamental para o desenvolvimento de projetos científicos e para o sucesso da UFSM na área.

O seu atual diretor presidente, professor Thomé Lovato, que assumiu o cargo em 2010, é a síntese do que a fundação mostra ser hoje. Em uma hora e meia de conversa, ele citou a palavra transparência oito vezes. Para ilustrar a situação atual da Fatec, o diretor presidente cita um conto em que um homem sobe na torre de uma igreja com centenas de penas e as joga, lá do alto, em um dia de vento.
- Por mais esforço que fizer, jamais conseguirá juntar todas as penas - diz Lovatto, em referência à imagem da Fatec, que ainda precisará de tempo para  ser totalmente recuperada.

Na contramão, a Fundae, que já foi a menina dos olhos de Santa Maria na área social, encolhe ano após ano. Contratada pelo Detran em 2007, no lugar da Fatec, para prestar o serviço da carteira de motorista, sofre os efeitos dessa relação. Antes da Rodin, a fundação oferecia 17 cursos profissionalizantes para cerca de 300 estudantes. Desde dezembro passado, as salas específicas para o treinamento de mão de obra estão sem uso. Somente um curso de informática é mantido para evitar a perda da filantropia.

A Fundae viu seu orçamento sucumbir de R$ 5,2 milhões em 2007 para um prejuízo de R$ 1,3 milhão no ano passado.
"(...) a instituição corre o risco de fechar", respondeu, por e-mail, a direção da Fundae.
Para seguir viva, a Fundae aluga parte de sua sede no Centro e uma olaria, no campus da UFSM.

Ainda impera a lei do silêncio

A recente decisão do processo da Rodin, em primeira instância, com a condenação de 29 réus, ainda é tabu entre envolvidos e pessoas que trabalharam ou trabalham nas fundações. Durante a produção dessa reportagem, o Diário tentou contato com diversos nomes que passaram pela Fatec ou Fundae, ou que tinham conhecimento do trabalho das fundações logo após o caso Rodin.

A maioria deles optou por silenciar pelos mais variados motivos. Uns educadamente e outros de maneira pouco amistosa mostraram total desconforto em ter o nome vinculado ao caso, sinal de que o peso da suposta fraude do Detran deve continuar assombrando Santa Maria, em especial essas fundações, ainda por muitos anos.
- Não me sinto confortável. Passei por lá, fiz minha parte e não acho que seja bom comentar sobre o assunto - respondeu um nome que fez parte de um grupo que trabalhou na recuperação da Fatec logo após o caso Rodin.

A aversão ao assunto, aliás, é recorrente em pessoas próximas às fundações e que tinham trânsito em ambas antes e depois do escâ"

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